Como Portugal Manteve sua Neutralidade na Segunda Guerra Mundial
HISTORIA
Descubra como Portugal navegou pela neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial, mantendo-se ileso em meio ao caos global. Uma história de diplomacia, estratégia e sobrevivência.
Rafael Barbiere 21/03/2025 ás 22:30
O Cenário Global: A Europa em Chamas
A década de 1930 foi marcada por uma escalada de tensões que culminaria no maior conflito armado da história. A Alemanha, sob o comando de Adolf Hitler, começou a expandir seu território de forma agressiva, anexando a Áustria e a Checoslováquia antes de invadir a Polônia em 1º de setembro de 1939. Esse ato foi o estopim que levou o Reino Unido e a França a declararem guerra à Alemanha, dando início à Segunda Guerra Mundial.
Enquanto a Europa mergulhava no caos, países como Espanha, Suíça e Portugal enfrentavam uma decisão crucial: escolher um lado ou permanecer neutros. Para Portugal, a escolha não foi simples. O país tinha uma aliança histórica com o Reino Unido, remontando ao Tratado de Windsor de 1386, mas também mantinha relações complexas com a Alemanha e a Espanha, esta última sob o regime de Francisco Franco, que simpatizava com as potências do Eixo.
A Estratégia de Salazar: Neutralidade com Propósito
António de Oliveira Salazar, que governava Portugal desde 1932, era um líder pragmático e calculista. Ele entendia que a entrada de Portugal na guerra poderia ser desastrosa para um país com recursos limitados e uma posição geográfica vulnerável. A neutralidade não era apenas uma opção, mas uma necessidade estratégica.
Salazar enfrentava vários desafios. Primeiro, Portugal era um aliado de longa data do Reino Unido, e romper essa aliança poderia ter consequências graves. Segundo, a única fronteira terrestre de Portugal era com a Espanha, que, sob o regime de Franco, tinha laços estreitos com a Alemanha e a Itália. Qualquer movimento em falso poderia levar a uma invasão espanhola ou alemã.
Para complicar ainda mais, Portugal possuía colônias ultramarinas na África, Ásia e Pacífico, que seriam alvos fáceis em caso de guerra. A proteção desses territórios era uma prioridade para Salazar, que via na neutralidade a melhor forma de preservar a soberania e a integridade do país.
A Segunda Guerra Mundial foi um conflito global que ocorreu entre 1939 e 1945. Foi um dos maiores conflitos da história, envolvendo a maioria dos países do mundo.
A Segunda Guerra Mundial foi um dos conflitos mais devastadores da história da humanidade, envolvendo nações de todos os cantos do globo em uma batalha épica entre o Eixo e os Aliados. Enquanto países como a Alemanha, a União Soviética e os Estados Unidos mergulhavam de cabeça no conflito, outros optaram por uma posição mais cautelosa: a neutralidade. Entre esses, Portugal se destacou como um caso fascinante de diplomacia e estratégia. Mas como um país relativamente pequeno, com uma longa história de alianças e conflitos, conseguiu se manter à margem de uma guerra que consumiu o mundo? A resposta está em uma combinação de astúcia política, alianças históricas e uma dose de sorte.
Neste artigo, vamos explorar como Portugal, sob a liderança de António de Oliveira Salazar, navegou pelas águas turbulentas da Segunda Guerra Mundial, mantendo sua neutralidade e, ao mesmo tempo, protegendo seus interesses nacionais. Prepare-se para uma viagem histórica que revelará os bastidores de uma das estratégias mais intrigantes do século XX.
Eixo e Aliados foram as duas alianças militares que lutaram na Segunda Guerra Mundial
Eixo
Formado antes do início da guerra
Composto por Alemanha, Itália e Japão
Objetivos: expansão territorial, derrubar a ordem internacional e destruir o comunismo soviético
Ideologias: autoritárias e extremistas
Responsáveis pelo extermínio de minorias étnicas
Aliados
Uniram-se no início da guerra
Compostos por Reino Unido, França, Estados Unidos, União Soviética e China
Objetivos: estabelecer um mundo mais seguro e justo, onde as nações pudessem coexistir pacificamente
Valores: respeito aos direitos individuais
O Tratado Luso-Espanhol: Uma Barreira Contra a Invasão
Uma das primeiras medidas de Salazar foi garantir que a Espanha não se juntasse ao Eixo e invadisse Portugal. Em 1939, os dois países assinaram o Tratado Luso-Espanhol de Amizade e Não Agressão, um acordo que reforçava a neutralidade da Península Ibérica. Esse tratado foi crucial para manter a paz na região, especialmente após a queda da França em 1940, quando a Alemanha começou a considerar uma invasão da Espanha e Portugal como parte de sua estratégia para controlar o Mediterrâneo.
Salazar também buscou fortalecer as defesas de Portugal, especialmente nas Ilhas dos Açores, que eram de importância estratégica para o controle do Atlântico. Ele sabia que, se a Alemanha ou os Aliados decidissem invadir as ilhas, Portugal estaria em uma posição extremamente vulnerável.
O Papel do Volfrâmio: Uma Moeda de Troca Estratégica
Um dos elementos mais intrigantes da neutralidade portuguesa foi o papel do volfrâmio, um minério essencial para a produção de armamentos. Portugal era um dos maiores produtores mundiais de volfrâmio, e tanto os Aliados quanto o Eixo estavam dispostos a pagar preços altos por ele.
Salazar usou o volfrâmio como uma moeda de troca, vendendo-o para ambos os lados do conflito. Essa estratégia permitiu que Portugal mantivesse relações econômicas com a Alemanha e os Aliados, ao mesmo tempo em que evitava se alinhar completamente a qualquer um dos lados. No entanto, essa política também gerou tensões, especialmente com o Reino Unido, que pressionava Portugal a parar de vender volfrâmio para a Alemanha.
Em 1944, sob pressão crescente, Salazar decidiu suspender as vendas de volfrâmio para ambos os lados, uma decisão que, embora custosa economicamente, ajudou a preservar a neutralidade do país.
Os Açores: Um Ponto Estratégico no Atlântico
As Ilhas dos Açores desempenharam um papel crucial na estratégia de Portugal durante a guerra. Localizadas no meio do Atlântico, as ilhas eram um ponto estratégico para o controle das rotas marítimas e aéreas. Tanto os Aliados quanto o Eixo tinham interesse em estabelecer bases nas ilhas.
Em 1943, após intensas negociações, Salazar permitiu que os Aliados estabelecessem bases militares nos Açores, uma decisão que foi vista como uma concessão necessária para manter a neutralidade. Essa movimentação foi crucial para as operações aliadas no Atlântico, especialmente no combate aos U-boats alemães.
Conclusão: A Neutralidade como Estratégia de Sobrevivência
A neutralidade de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial foi uma das estratégias mais bem-sucedidas da história diplomática moderna. Sob a liderança de António de Oliveira Salazar, o país conseguiu navegar por um dos períodos mais turbulentos da história sem se envolver diretamente no conflito. Essa decisão não foi isenta de críticas, mas, no final, permitiu que Portugal emergisse da guerra praticamente ileso, com sua soberania e integridade territorial intactas.
A história de Portugal durante a Segunda Guerra Mundial é um testemunho do poder da diplomacia e da estratégia em tempos de crise. Enquanto o mundo queimava ao seu redor, Portugal conseguiu manter-se firme, provando que, às vezes, a melhor forma de vencer uma guerra é não lutar nela.