Estrela Betelgeuse
ASTRONOMIA
A Supergigante Vermelha Que Desafia as Leis da Física
Rafael Barbiere | 30/03/2025 ás 20:50
Introdução: O Mistério de Betelgeuse
Imagine uma estrela tão gigantesca que, se ocupasse o lugar do Sol, devoraria Mercúrio, Vênus, Terra, Marte e quase tocaria Júpiter. Agora, acrescente a isso uma rotação tão vertiginosa que desafia as leis conhecidas da física. Essa estrela é real e se chama Betelgeuse — uma das supergigantes vermelhas mais intrigantes e misteriosas do cosmos.
Nos últimos anos, Betelgeuse chamou atenção não só por seu comportamento imprevisível — como o escurecimento inexplicável em 2019 —, mas também por uma descoberta que deixou a comunidade científica em polvorosa: sua superfície parece girar a incríveis 18.000 km/h. Como uma estrela tão colossal pode rodar tão rápido? Seria um fenômeno real ou um efeito ilusório do universo?
Neste artigo, vamos desvendar os enigmas de Betelgeuse, desde suas características impressionantes até as teorias mais recentes que tentam decifrar seu comportamento extraordinário. Prepare-se para uma viagem pelo desconhecido, onde a ciência e o mistério se entrelaçam!
Betelgeuse: A Gigante de Orion
Localizada a apenas 650 anos-luz da Terra, na constelação de Orion, Betelgeuse é uma supergigante vermelha – uma estrela que já esgotou seu hidrogênio e está nos estágios finais de sua vida. Ela é tão grande que, se estivesse no lugar do Sol, seu raio se estenderia além da órbita de Júpiter. Além disso, é a décima estrela mais brilhante do céu noturno, visível a olho nu como uma luz avermelhada no "ombro" da constelação de Orion.
Mas o que realmente torna Betelgeuse especial não é apenas seu tamanho, mas seu comportamento imprevisível. Em 2019, seu brilho diminuiu drasticamente, levando a especulações de que ela poderia explodir em uma supernova a qualquer momento. Embora isso não tenha acontecido (pelo menos não ainda), a estrela continuou a surpreender os cientistas com outra peculiaridade: sua rotação aparentemente impossível.
A Velocidade que Desafia a Física
Como Medir a Rotação de Uma Estrela Distante?
Para objetos próximos, como planetas ou até mesmo o Sol, medir a rotação é relativamente simples: basta observar suas características de superfície ao longo do tempo. No entanto, Betelgeuse está tão longe que, mesmo com os telescópios mais avançados, ela aparece como um borrão difuso.
Então, como os astrônomos determinaram sua velocidade de rotação? A resposta está no efeito Doppler – o mesmo fenômeno que faz o som de uma ambulância mudar de tom quando ela se aproxima ou se afasta de você.
Quando uma estrela gira, metade de sua superfície se move em direção à Terra (causando um desvio para o azul na luz), enquanto a outra metade se afasta (causando um desvio para o vermelho). Ao analisar essas variações, os cientistas podem calcular sua velocidade de rotação.
Um Número que Não Deveria Existir
Usando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), os astrônomos descobriram que a superfície de Betelgeuse gira a 5 km/s (18.000 km/h) – dez vezes mais rápido do que o esperado para uma estrela de seu tamanho e massa.
Para entender o quão absurdo isso é, considere o Sol: ele gira a cerca de 2 km/s. Se o Sol se expandisse até o tamanho de Betelgeuse, sua rotação cairia para apenas 2 metros por segundo devido à conservação do momento angular (o mesmo princípio que faz uma patinadora girar mais devagar quando abre os braços).
Então, como Betelgeuse consegue girar tão rápido?
Teorias: Canibalismo Estelar ou Ilusão Cósmica?
1. Canibalismo Estelar: Betelgeuse Devorou Sua Companheira?
Uma hipótese fascinante sugere que Betelgeuse pode ter "roubado" momento angular de uma estrela companheira. Em sistemas binários, é possível que uma estrela maior absorva matéria de sua vizinha, transferindo parte de sua rotação no processo.
Se Betelgeuse já fez parte de um sistema binário e "engoliu" sua parceira, isso explicaria sua rotação anômala. No entanto, até agora, nenhuma evidência direta de uma estrela companheira foi encontrada.
2. Uma Superfície Turbulenta: A Ilusão do Giro
Uma equipe de astrônomos da Europa e da China propôs uma explicação ainda mais intrigante: Betelgeuse pode não estar girando tão rápido quanto parece.
A superfície de uma supergigante vermelha é um caos turbulento, com bolhas de plasma gigantes (algumas com 100 milhões de km de diâmetro) subindo e descendo a velocidades de 30 km/s. Essas bolhas criam regiões que se movem em direção ou para longe da Terra, gerando desvios de luz semelhantes aos causados pela rotação.
Devido à baixa resolução das imagens do ALMA, os cientistas podem ter interpretado esse padrão caótico como um giro uniforme. Simulações mostram que, em 90% dos casos, uma estrela turbulenta como Betelgeuse pode enganar os telescópios, fazendo parecer que está girando quando, na verdade, está apenas borbulhando violentamente.
O Futuro: Precisamos de Mais Dados
A única maneira de resolver esse mistério é com imagens de alta resolução. Felizmente, telescópios como o James Webb e futuras observações do ALMA com maior precisão podem revelar a verdade.
Enquanto isso, Betelgeuse continua a nos lembrar que o universo está cheio de fenômenos que desafiam nossa compreensão. Seja um canibal estelar ou uma ilusão cósmica, uma coisa é certa: essa gigante vermelha ainda tem muitos segredos para revelar.
Conclusão: Uma Estrela que Nunca Cessa de Surpreender
Betelgeuse é mais do que apenas um ponto vermelho no céu – é um laboratório cósmico que testa os limites da física estelar. Sua possível rotação ultrarrápida, seja real ou uma ilusão, abre novas perguntas sobre como estrelas massivas evoluem e interagem.
Se a explicação do canibalismo estelar estiver correta, isso significaria que Betelgeuse tem um passado violento, marcado pela destruição de uma estrela companheira. Por outro lado, se for apenas uma ilusão causada por sua superfície turbulenta, isso revela o quão complexas e dinâmicas podem ser as supergigantes vermelhas.
Enquanto aguardamos mais dados, uma coisa é certa: Betelgeuse continuará a fascinar astrônomos e entusiastas do espaço por muitos anos. E, quem sabe, talvez um dia ela nos presenteie com o espetáculo mais grandioso de todos – uma explosão de supernova visível até mesmo durante o dia.